Camelo Urbano Reflexões: Pedalar é preciso

porLucas Pavel

Camelo Urbano Reflexões: Pedalar é preciso

pedalar-e-preciso1John Lennon certa vez disse que quando ele era criança, seu sonho era ter uma bicicleta. Ele relata que quando finalmente conseguiu, sentiu-se o garoto mais feliz de Liverpool. Enquanto as outras crianças deixavam suas bicicletas no quintal à noite, ele trazia-a pra dentro de casa, às vezes até pra cama.

Esse é o tipo de descoberta que, embora surpreendente, num instante de reflexão já nos causa compreensão absurda. Ora, que criança não viveu esse momento, ou seja, a conquista da primeira bicicleta? Num mundo de prazeres apressados, vícios compráveis em appstores, ganhar sua primeira bike é um hobby rebuscado e, por isso mesmo, único. Você não ganha simplesmente a bicicleta, você precisa aprender a andar com ela. É uma conquista. E é nesse momento que aparece a famigerada frase: “uma vez que você aprende a andar de bicicleta, você nunca esquece”. Em outras palavras, é um ganho que fica pra vida, ao mesmo tempo um valor e um ritual. Tenho trocentos amigos que, já beirando os 30, falam ressentidos com cara de moleque não saberem andar de bicicleta. Sim, isso deixa uma lacuna na sua infância.

Muitos começam nas rodinhas, que nada mais são que muletas. O que é super ok, afinal de contas, quando você é criança tudo é meio muleta. Mesmo os pais mais liberais sempre mantém aquele laço de zelo. Só que a escola chega e você percebe que o mundo não é o quintal da sua casa. A escola traz o diferente, o desafio, o antagonismo. A escola traz o outro. Só que o outro é incômodo. Até então você achava que estava bem sendo você mesmo. Claro. Ninguém desafiava sua identidade. A gente percebe desde cedo que é preciso conseguir equilibrar as forças externas e internas a nós para conseguir viver em paz.

Você sai com ela, seu primeiro meio de transporte autêntico. Alguém te segura pelo banco. Você cai, levanta, cai de novo. O exercício se repete inúmeras vezes. Você pensa em desistir. Talvez não seja sua praia. Mas você continua. Se sente desafiado por ninguém específico. Até que o momento nasce. O empurrão certo acontece, só que dessa vez você não comeu terra. Dessa vez você seguiu adiante. Você não acredita no que está acontecendo, você vibra e até solta os braços timidamente do guidão. É verdade, pode se beliscar, você está andando de bicicleta pela primeira vez na sua vida.

pedalar-e-preciso2A descrição acima é de andar de bicicleta, mas poderia ser perfeitamente de andar na vida. As quedas, a poeira, o machucado, o medo, o erguer-se de novo. Quantos não foram os escritores, filósofos, cientistas que compararam o pedalar à existência humana? Pra citar mais um gênio do nosso tempo, Einstein uma vez disse que “viver é como andar de bicicleta: pra manter o equilíbrio, você precisa continuar se mexendo”. Andar de bicicleta nada mais é do que a conquista do equilíbrio. As forças todas estão aí, à deriva, mas você não pode parar. Seu corpo é seu próprio motor. Você só descobre a força que tem quando usa todas as suas marchas. Você é meio e ao mesmo tempo agente. Eles tinham razão: você nunca mais vai esquecer. Experimenta pegar uma bicicleta 15 anos depois. O que acontece? Você ainda sabe andar. Ora, você por acaso conhece alguém que esqueceu como faz para viver? Bom, os que esqueceram já morreram de qualquer forma.

Lennon levava sua bicicleta pra cama. Tinha medo de perdê-la. Einstein botava-a pra correr pelo mundo. Tinha medo de perder-se. Um foi artista, outro cientista. Um idealizou o mundo, o outro o relativizou. Lennon mudou a forma que o mundo enxergava o amor. Einstein mudou a forma como o mundo enxergava a energia. Em outras palavras, esses dois gênios incontestáveis mudaram o próprio conceito de vida.

Dois ciclistas, físicos ou abstratos. Duas vidas que nos ensinaram que, independente do seu estilo, pedalar é preciso.

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