VELOCITY-2018

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Quem é ligado no mundo da bike sabe que a época áurea do Rio de Janeiro nesse quesito meio que já passou. Nos idos de 2013, durante a gestão Paes, o Rio ia ser a Capital da Bicicleta. Estávamos aumentando nossa malha cicloviária, que até então era muito mais turística, by the sea, do que efetiva, útil. Os exemplos mais vultosos foram a ciclofaixa instalada em Laranjeiras e a Ciclovia Tim Maia. Embora o sucesso da primeira seja inegável, o desastre (e tragédia) da segunda mostrou que o projeto carioca não era tão bom. Especialmente por ter sido feito sem consultar quem de fato entende do assunto: os ciclistas.

Outras capitais brasileiras vêm mostrando bem mais sucesso na inserção da bicicleta na vida das cidades. São Paulo, por exemplo, teve uma gestão (Haddad) que muito incentivou esse processo. Ele aumentou substancialmente a malha de ciclovias e ciclofaixas, incentivou os sistemas de compartilhamento de bikes, reduziu a velocidade nas ruas e alimentou, com isso, uma militância de ciclistas que cobra sempre por mudanças. O movimento foi tão forte que nem a administração tucana capenga de agora conseguiu abater. Fortaleza também se destaca bastante e ganha força nesse cenário.

No entanto, nas última semanas o Rio teve a oportunidade de reviver, ainda que de forma fugaz, sua ex-glória, através do aguardado Velocity, sediado esse ano na capital capital carioca de 12 a 15 de junho. A Camelo Urbano esteve lá e vamos falar dos principais destaques do evento.

De cara, já dá pra falar do slogan do evento esse ano: “Access to Life” (acesso à vida), que de forma simples, resume bem o valor da bicicleta para o cidadão. A bike nos devolve a vida, vida essa roubada pelo tempo absurdo que perdemos blindados dentro de nossos carros diariamente. Blindagem tão eficaz que nos retira do contato com o meio, com a realidade da cidade, nos paralisa e nos remove o prazer de circular pelas ruas.

Vamos falar um pouco sobre o que vimos cada dia:

Primeiro Dia

  • Raquel Rolnik fala sobre como a ocupação do espaço urbano é desigual e mal planejada, privilegiando como sempre os carros, gerando engarrafamentos, poluição, aumentando o tempo que passamos presos no trânsito e diminuindo, portanto, a qualidade de vida.

Segundo Dia

    • Nina Hedeager coloca a tecnologia como forma de otimizar a mobilidade urbana e ativa. Exemplos: e-bikes e sistemas de compartilhamento de bicicletas.
    • Daniel Valença fala sobre a experiência das bicicletas compartilhadas em diversas cidades da América Latina.
    • BIKE PARADE: oportunidade para os participantes de circular de bicicleta pela cidade e conhecer seus espaços (trajeto do Centro ao Aterro).

Terceiro Dia

  • Letícia Sabino fala sobre o SampaPé: em 2012, depois de viver uma experiência renovadora na Cidade do México (cidade abarrotada de pessoas, de trânsito e muito desigual), ela resolve repensar sua interação e sua mobilidade na cidade de São Paulo. De posse de um dado surpreendente – a constatação de que 30% da população paulistana faz seus traslados diários exclusivamente a pé -, Letícia toma a decisão de estimular esse  tipo de mobilidade, posto que ela já é legítima para os cidadãos. Dentre as conquistas mais importantes do SampaPé, estão a abertura da Paulista aos domingos e caminhadas que o movimento organiza com figuras do poder público.
  • Sayuri Oliveira apresenta um trabalho intitulado “O Reino do Espaço Público”, onde analisa a implantação de ciclorrotas em Aracaju, evidenciando inclusão, gênero e sustentabilidade nesse processo.
  • O príncipe da Suécia nos apresenta o conceito de visão zero, em sua vertente antiga e a nova. A antiga falava sobre retirar as pessoas, as bicicletas, as calçadas e as ciclovias das ruas das cidades, enchendo-as de carros, para diminuir os acidentes. O novo viés reconhece que acidentes acontecem até nas cidades com melhor infra-estrutura e que elas precisam estar preparadas para essa eventualidade. A dita visão zero nova diz que precisa haver menos poluição, menos velocidade de carros, mais intercepções seguras e uma mobilidade mais ativa. As mudanças nas cidades precisam levar em conta seus usuários. Interessante notar que muitas cidades brasileiras já seguem esse caminho, como São Paulo (não só a capital), Fortaleza, Bicuri. Exemplo disso é a implantação de faixas de pedestres na diagonal (o que reduz o tempo de travessia, gerando menos acidentes), o alargamento das calçadas, a implantação de velocidades baixas nas vias.

Destaques interessantes também não faltaram. Gostamos bastante da fala de Sirkis, ex-secretário municipal de urbanismo, responsável por trazer o Rio Orla (que padronizou os quiosques e construiu uma ciclovia do Leme ao Pontal). Ele fala que no início o projeto enfrentou resistência de alguns ambientalistas (pois tiveram que remover amendoeiras que não prosperavam ali), embora 80% da população carioca reclamasse do espaço excessivo dado aos carros na cidade. Hoje em dia, o projeto é bastante querido a cariocas e turistas e até pode ser considerado patrimônio do Rio. Outro destaque interessante foi a apresentação do prefeito de Maputo (Moçambique), falando sobre bike share num contexto onde a bicicleta tem muito mais a ver com sobrevivência do que bem-estar, já que também é utilizada para transporte de comida, água e outros insumos mais básicos.