Camelo Urbano Reflexões: Uma questão de silêncio espacial

Não adianta, nenhuma mudança vem fácil. Se mudanças pessoais já são difíceis de serem levadas adiante, imagine mudanças sociais. É o que pensa o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. No intuito de entregar 200km de malha cicloviária até o fim do ano, Haddad teve que enfrentar forte oposição. Termos como ciclopetismo, “ciclo coisa” (uma alusão à falta de embasamento filosófico do seu “movimento”) e outros circulam aos montes pelas mídias. Sem contar com as reclamações de comerciantes e de vários cidadãos. No entanto, o prefeito se mantém firme em sua postura. Ele acredita que a colocação de ciclofaixas cumpre uma função civilizatória.

Segundo informação do Departamento de Marketing da Companhia de Engenharia de Tráfego CET, já foram instaladas mais de 200 Km de ciclovias em São Paulo. A intenção é alcançar a meta de 400 Km de ciclovias até 2016. Antes da gestão Fernado Haddad, Sampa tinha apenas 60 Km de ciclovias.

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Brigadeiro Faria Lima, São Paulo

Nessa queda de braço, quem perde é o carro. Mas quem ganha é a população como um todo, que tem seu trânsito desafogado. Pensar no todo é o que falta entre os cidadãos brasileiros. Sempre alguém sairá perdendo, mas se no fim a maioria for contemplada, é porque o exercício da democracia foi bem praticado.

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Gilberto Occhi, ministro das Cidades

Se mudar é complicado, o primeiro passo é dar o exemplo. Haddad tem iconizado esse processo e seus gestos respingam em outros lugares. É o caso de Gilberto Occhi, ministro das Cidades, que inaugurou setembro passado 30 vagas de estacionamento de bicicletas no prédio do seu ministério em Brasília (DF).

Num país que carece de bons exemplos por parte dos políticos, a inauguração veio a calhar. A medida surgiu depois que o ministro tomou posse da informação de que 67% dos servidores da pasta usariam a bike como meio de transporte caso houvesse em seu local de trabalho paraciclos e reformas de vestiário. Gilberto agiu então na direção dessas demandas. Atitudes como essa deveriam se tornar padrão, ou seja, um primeiro olhar nas necessidades dos ciclistas potenciais e um segundo momento onde medidas são efetivamente tomadas a partir dessas informações.

Como diz o mestre Haddad, muito mais do que uma questão de tecnologia ou de transporte, trata-se de uma questão de urbanismo e de uma melhor conexão com a cidade. Assim como há o silêncio na música, as cidades precisam de silêncio espacial.

Nós do Camelo Urbano, parabenizamos esta iniciativa e curtimos percorrer as novas ciclovias que além de bem sinalizadas, tira faixa dos carros.