PRECISAMOS FALAR SOBRE SEGURANÇA

 

Crise de Mudança

Como todos sabem, a pandemia tem imposto desafios a todas as áreas da vida urbana. Isso logicamente não deixaria de fora o cenário da mobilidade, especialmente no que diz respeito ao segmento das bikes. Uma das mudanças mais significativas nesse sentido é o fato de que, com as contingências do covid-19, as pessoas começaram a abandonar parcialmente o transporte público e começaram a adotar a magrela. Também passaram a abandonar espaços confinados para fazer exercício. E com isso um novo fator de risco despontou, a soma: ciclistas inexperientes + cidades despreparadas. IMG_2356

De uma maneira geral, a rua começou a ser um espaço de esportistas, mas do que de costume. As academias, mesmo liberadas, ainda apresentam o perigo da aglomeração. Observam-se mais pessoas caminhando, correndo e pedalando. Não só no Rio, mas em várias cidades do planeta. Os sistemas de compartilhamento de bicicletas andam abarrotados. Assim, de uma maneira forçada, a bike ganhou uma nova e sublinhada importância nesse novo cenário. 

A preocupação com riscos, assim como uma necessidade de se aprimorar o sistema cicloviário das cidades têm sido pauta em diversos países. Na cidade suíça de Lausanne, o governo está oferecendo até 300 francos suíços para quem comprar uma bicicleta. Segundo a prefeita do lugar, as bikes precisam ser usadas. Eles lá estão tirando dinheiro dos impostos de eletricidade para injetar no sistema das bikes. 

No entanto, tanto lá quanto em outros lugares, a questão da segurança sempre se coloca como emergente. Por exemplo, um debate que tem aparecido é a obrigatoriedade do capacete. Os detratores dessa ideia dizem que na maioria dos acidentes envolvendo bikes, não é a cabeça a primeira a ser afetada. Em geral, o ciclista se apoia primeiro com a mão no chão. Também um outro ponto colocado é que o uso compulsório de capacete pode dar a falsa impressão aos ciclistas de que eles podem correr muito nas vias urbanas, causando possíveis acidentes. 

Caímos assim numa indagação quase filosófica: se por um lado a segurança biológica fica mais assegurada pelas bikes, a segurança física das pessoas acaba sendo prejudicada pelo quórum de novos bikers nas ruas e pela falta de estrutura urbana para acomodá-los.

No Brasil, o ciclista fica sempre numa posição complexa. Na calçada quem tem prioridade é o pedestre. Na rua, quem manda é o carro. Conclusão: aqui a solução é e sempre foi investir mais em ciclovias. Como um avanço a ser citado aqui, podemos falar do Estatuto do Pedestre, aprovado em 8 de agosto de 2020. Ele prevê maior qualificação das calçadas, mais iluminação nas vias e triplicação das ciclovias e ciclofaixas. Como diz a urbanista da USP, Estela Alves, precisamos compreender que melhores condições no espaço urbano passam por melhorar as condições dos pedestres. Parece óbvio, mas iluminar as ruas previne muitos problemas

Aqui, a questão acaba batendo na problemática do covid-19 também. Calçadas estreitas e esburacadas acabam aumentando o contágio pois dificultam o distanciamento social. O momento é de segurança, tanto física de quem se locomove de bike ou caminha pelas ruas, quanto biológica para que possamos ultrapassar o covid-19 com alguma serenidade. Nunca foi tão importante investir em segurança pública. Mas não podemos esquecer que o momento também é de maior engajamento na mobilidade alternativa e isso precisa ser reconhecido e valorizado.