CIDADE PARA TODOS

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Já no final dos anos 80, Charles Landry nos falava sobre a cidade criativa. Ora, esse conceito mais pra frente iria ser usado exaustivamente por vários políticos do mundo em sua busca ambiciosa por repaginar cidades inteiras. Basicamente, o conceito tem por fundamento pensar soluções viáveis para problemas urbanos tidos em outros momentos como intratáveis. É o caso de regiões inteiras em cidades como o Rio que eram vistas como empoeiradas e sem função. Exemplo prático: o novo Porto do Rio. Ou até o Porto Madero em Buenos Aires. Landry foi o idealizador do boom de “revitalizações” que se vê por aí hoje em dia. Ou seja, ele nos ajudou a repensar formas de planejar e organizar cidades.

Logo esse pensamento evoluiu para algo mais abrangente. Afinal, essa onda de restauros muitas vezes resultava de manobras políticas que em nada tinha a ver com o bem-estar da população. Landry começou a falar em uma cidade para todos, isto é, uma cidade inclusiva que se desenvolve por vários vetores. Uma cidade que não atende aos interesses de parcelas pequenas. E em todas essas equações, a bicicleta sempre figurava como elemento central. Exatamente por ela ser democrática, rápida, saudável e extremamente limpa.

A bicicleta ficou estampada no futuro de qualquer cidade que quisesse ser autônoma, moderna e que quisesse superar problemas atávicos de décadas. Em outras palavras, cidades para pessoas. Um exemplo de Cidade para todos é São Paulo, cuja Avenida Paulista acaba de completar 126 anos. E essa via é, por si só, um exemplo de inovação e de cidade pensada no fator humano.

Porém, como nos fala Phil Tinn, essa prerrogativa sempre esbarrou na predileção inegável das pessoas pelo carro. O carro é visto como elemento de status e independência. Algo a se almejar. Um bem quase do tamanho de uma casa. Mesmo em soluções mais positivas, menos poluentes, como é o caso do Uber Pool, é o carro que está lá solucionando nossos problemas. O ideal seria fazer uma transição para meios não-motorizados, mas essa opção fica de fato inviável quando falamos em transporte de massa. Nesse caso, apenas o transporte público dá conta e o mais usado deles sempre foi  o ônibus. Ou seja, a solução está no carro de novo.

Em pesquisas realizadas em diversas cidades sobre o porquê de continuar usando carro, muitas vezes a resposta era bem simples: o carro é uma ótima opção. Não há nenhum motivo para usar o transporte público. Isso nos faz pensar que para atingir a meta desejável dentro de uma lógica “para todos”, ou seja, fazer com que a população utilize o ônibus, esse ônibus precisa ser de altíssima qualidade. Você tem que de fato considerar o transporte público dada a sua superioridade técnica em relação ao carro. É nesse caminho que os políticos precisam pensar para de fato obter uma cidade para todos.