A Lei é clara, mas suas implicações não são

Outubro_600 x 358 px_03

A lei é clara, porém desconhecida (como sempre). O transporte não motorizado tem prioridade sobre o motorizado. E o motorizado público tem prioridade sobre o motorizado individual. Está na Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei n. 12.587/12). E este fato foi recentemente levantado pelo Senado Federal para refrescar nossas esquecidas memórias. O princípio por trás dessa lei é fácil de se interpretar. Prevalece o transporte não motorizado porque ele é o mais frágil dentro do trânsito. O que nos faz pensar imediatamente que o pedestre vem muito antes nessa equação. Ele é o item zero que não está mencionado por ser (quase) muito óbvio. E o transporte público tem preferência por transportar mais gente. Ou seja, é mais útil para a população como um todo. E para a maioria dela.

Nesse raciocínio, portanto, a bicicleta figura em posição de privilégio, já que depende bastante de material humano para acontecer. A bicicleta é o ser humano no seu grau “motorizado” mais rudimentar. Mas tão frágil quanto qualquer pedestre. Isso está estampado em qualquer pergunta que tenhamos feito a ciclista que entrevistamos na rua em nossas andanças. O principal fator que impede as pessoas de usar a bike como transporte de fato é o medo de sofrer algum tipo de acidente.

Ora, esse medo é legítimo e nos diz muitas coisas. Nos diz que de nada adianta uma lei bonita e sensata e um rememoramento bem bolado pelo Senado se não existe estrutura para andar de bicicleta nas ruas das nossas cidades. A bicicleta tem vantagem, mas quando o ciclista de fato vai pisar na rua ele sente medo das vias com velocidades absurdas e sente falta de um espaço só seu. Os projetos estatais que focam na mobilidade urbana da bike são erráticos e mal planejados. Não enxergam o todo. Se alargar mais ruas e construir mais viadutos, como vem acontecendo, isso vai gerar mais carros ainda. E as pessoas ficam com cada vez menos vontade de pedalar. Precisamos de um plano ordenado e de legisladores menos hipócritas que de fato entendam do trânsito.

Algumas ideias têm sido ventiladas no sentido de instalar ciclovias em vias expressas como a Avenida Brasil ou outras. Isso é algo interessante a ser estudado, porém com bastante cuidado porque vias de alta velocidade têm grande vocação para causar acidentes fatais. Mas a ideia é de fato boa, especialmente porque dá acesso à população de baixa renda a um tipo de mobilidade menos convencional e poluente e bem mais inteligente.